Bel Coelho: Conhecer sabores da floresta é essencial para manter a amazônia em pé
Não existe floresta sem gente —seja porque a amazônia, longe de ser um bioma intocado, foi cultivada por povos originários ao longo de milhares de anos, seja porque extrativistas, indígenas, quilombolas, ribeirinhos e tantos outros grupos se tornaram guardiões da floresta. Essa ideia é o ponto de partida de "Floresta na Boca", livro da chef Bel Coelho sobre os sistemas alimentares da amazônia, enraizados tanto nos ingredientes da floresta quanto nas práticas das populações da região. A autora lança na COP30, em Belém, o livro e um documentário sobre a amazônia, que são resultado de duas expedições realizadas neste ano no Pará. Nesta entrevista, a chef diz que a culinária brasileira ainda é muito distante dos ingredientes da nossa biodiversidade e que o apagamento cultural de certos alimentos pode levar à sua extinção ambiental, impulsionando uma agricultura colonizada. Ela também explica por que considera a mandioca a rainha do Brasil, fala sobre os riscos da açaização da amazônia —o incentivo à monocultura do açaí devido ao aumento do seu preço nos mercados— e discute o protagonismo feminino em experiências de conservação da floresta. Por fim, Bel Coelho defende uma transformação na nossa alimentação para lidar com a crise climática, por meio do consumo de ingredientes nativos e da remuneração justa de produtores comprometidos em manter a floresta em pé. Produção e apresentação: Eduardo Sombini Edição de som: Raphael Concli See omnystudio.com/listener for privacy information.
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Reginaldo Prandi: Terreiro transbordou para a sociedade e moldou a cultura brasileira
O sociólogo Reginaldo Prandi, professor emérito da USP, é o convidado do Ilustríssima Conversa desta semana. Prandi, um dos mais importantes pesquisadores do país das religiões afro-brasileiras, está lançando "Orixás: os Deuses que Habitam em Nós", livro destinado tanto a quem acredita nessas divindades quanto a quem se interessa intelectualmente por elas. A obra reúne mitos sobre 18 orixás e explora como os deuses são cultuados no Brasil. Ao mesmo tempo, celebra os 25 anos de publicação de "Mitologia dos Orixás", best-seller e referência fundamental sobre o tema. Nesta entrevista, Prandi narra como chegou ao estudo dos orixás e dos terreiros e diz que, assim aconteceu com outras religiões, a história do candomblé foi profundamente influenciada por circunstâncias políticas e sociais do Brasil. O autor também aponta orixás que ganharam espaço nos últimos anos, por expressarem debates sobre gênero e sexualidade, por exemplo, e explica como os rituais dos terreiros transbordaram para o resto da sociedade e foram fundamentais na construção da cultura brasileira. Produção e apresentação: Eduardo Sombini Edição de som: Raphael Concli See omnystudio.com/listener for privacy information.
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Marina Rossi: Consumo atual de carne é insustentável
O Brasil tem o maior rebanho bovino comercial do mundo: são mais de 230 milhões de bois, e 44% dos animais estão nos estados da Amazônia Legal. Só o município de São Félix do Xingu, no sudeste do Pará, tem 2,5 milhões de bois, cerca de 38 cabeças de gado para cada habitante humano. O rebanho do país vem crescendo nas últimas décadas, e a pecuária é um dos principais vetores de desmatamento da amazônia —se calcula que 90% da área desmatada do bioma vira pasto. Esses são alguns dos dados reunidos pela jornalista Marina Rossi em “O Cerco”, livro recém-lançado que busca entender como a maior floresta tropical do mundo foi invadida pela pecuária e quais são as consequências ambientais e sociais desse processo. Neste episódio, Rossi lembra que a amazônia é fundamental para a viabilidade ambiental do Brasil e diz que a transformação do bioma em pasto conta, há décadas, com incentivos do Estado, seja por meio do financiamento a propriedades que desmatam, seja por falhas na fiscalização ambiental. Na entrevista, a autora também discute os desafios relacionados à redução do consumo de carne no país e defende que mudanças no comportamento dos consumidores podem ter impacto em toda a indústria. Produção e apresentação: Eduardo Sombini Edição de som: Lucas Monteiro See omnystudio.com/listener for privacy information.
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Leopold Nosek: Empreendedorismo leva pessoas a competir com o próprio relógio
A ficção pode ser a melhor forma de retratar a realidade, diz o psicanalista Leopold Nosek. Criar narrativas para dar sentido ao mundo é inevitável, ele diz, e essa é a base do que chama de método Marlow, inspirado no protagonista do romance "Coração das Trevas" e título do seu livro recém-publicado. "O Método Marlow: Ensaios Indisciplinares em Psicanálise" reúne ensaios recentes que abordam temas como os tipos de sofrimento psíquico relacionados ao espírito do tempo atual e textos que documentam a sua trajetória intelectual e clínica de décadas. Nesta entrevista, Nosek diz ver em seu consultório discursos que pouco avançam em elaborações mais abstratas, que refletem "patologias de pobreza imaginativa" –algo muito semelhante à avaliação que faz das ideologias do presente, que considera muito pouco sofisticadas. Para o autor, a subjetividade moldada por ideais como o empreendedorismo e a meritocracia faz com que os sujeitos, que se consideram seus próprios patrões, passem a competir com o próprio relógio: todos têm que ser campeões, ele diz, e, ao mesmo tempo, vivemos em um mundo cada vez mais marcado pelo medo e pela incerteza. Nosek também discutiu a atualidade da psicanálise. Para ele, não se trata de um campo anacrônico ou ultrapassado, mas de uma prática que, em vez de interpretar sonhos, pode ajudar os pacientes a construir sonhos em um mundo sombrio. Produção e apresentação: Eduardo Sombini Edição de som: Raphael Concli See omnystudio.com/listener for privacy information.
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Ernesto Mané: Fui à África para reconstruir minha identidade
O racismo é uma forma de estruturar o mundo e é integral à constituição da sociedade brasileira, diz o físico e diplomata Ernesto Mané. No seu livro de estreia, o autor registra como a discriminação racial o acompanhou em toda a sua trajetória —e se entrelaça com a história do seu pai, nascido na Guiné-Bissau, e do próprio colonialismo que se impôs sobre o país e sobre o continente africano. Mané, nascido em João Pessoa, tinha feito o doutorado em física em Manchester, no Reino Unido, e um pós-doutorado em Vancouver, no Canadá, quando embarcou para a Guiné-Bissau para conhecer o país e a família do pai, figura ausente em boa parte da sua vida. O diário que ele manteve na viagem, em 2010 e 2011, deu origem a "Antes do Início", que registra seus esforços para conhecer seu passado familiar e reconstruir sua própria identidade. Neste episódio, o convidado fala sobre o que a escrita oferece para lidar com o terreno da memória, explica por que resolveu publicar seu diário quase 15 anos depois da viagem à Guiné-Bissau e conta o que descobriu sobre o pai, morto em 2014. Produção e apresentação: Eduardo Sombini Edição de som: Raphael Concli See omnystudio.com/listener for privacy information.